Francisco de Assis – A Oração – 1ª Parte

Francisco de Assis – A Oração – 1ª Parte

Edilberto Santos

SIGNORE,
fa’ di me uno strumento della tua pace.

Dove c’è odio, io porti amore.

Dove c’è discordia, io porti l’unione.

Dove c’è errore, io porti la verità.

Dove c’è dubbio, io porti la fede.

Dove c’è disperazione, io porti la speranza.

O Divino Maestro,

che io non cerchi tanto di essere consolato quanto di consolare.

Non di essere compreso quanto di comprendere.

Non di essere amato, quanto di amare.

Infatti: donando si riceve.

Dimenticandosi si trova comprensione.

Perdonando si è perdonati.

Morendo si risuscita alla vera Vita.

(Oração de São Francisco de Assis original em Italiano)

Volto ao tema proposto em artigo anterior sobre SÃO FRANCISCO DE ASSIS, agora para tecer alguns comentários sobre esta bela Oração atribuída a ele, e que retrata muito bem o sentimento que o dominava quando após O “chamado” de Deus, promoveu uma guinada vertiginosa em sua vida se tornando como já disse, um dos Santos da Igreja Católica mais conhecidos e reverenciados no mundo todo.

Proponho breve e rápida análise das estrofes dessa Oração, na certeza de levar o leitor a refletir comigo sobre a profundidade dos ensinamentos que encerra e mais ainda, promover o interesse em mais e maiores estudos desta Oração, que dividi em quatro partes para melhor acomodação no espaço do site e do jornal que me acolhem os escritos, e assim começo pela estrofe que diz:

*Senhor, fazei-me instrumento de vossa paz.

Já no começo da Oração percebemos o espírito desprendido e humilde de Francisco, quando em rogativa a Deus pede com toda sua Fé que ele venha a ser distinguido por Deus como INSTRUMENTO para transmitir a paz que brota de dentro para fora de cada pessoa, a paz de Deus.

Nesta primeira estrofe Francisco segue a recomendação de JESUS aos seus discípulos, quando lhes dizia o Mestre que em cada casa em que entrassem dissessem a saudação “Que a paz do Senhor esteja nesta casa”. Também Francisco usualmente iniciava e terminava suas prédicas com a proclamação da paz do Senhor.

Não roga a Deus na condição de protagonista, mas, sim, pede para ser um simples instrumento na promoção da Paz que o cristão almeja entre os irmãos e que JESUS pregou.

Vale lembrar, que Francisco ouviu o “chamado” de Deus para restaurar a Igreja que se achava em ruinas, e mesmo tendo obtido esse privilégio de ser chamado por Ele, isso em nada mudou sua humildade e nem se encantou com as pompas e vestes que ornavam e ainda ornam a igreja católica apesar de laborar no catolicismo, antes pelo contrário, chamava todos os seres de Deus de irmãos e se considerava o menor deles, definindo inclusive a humilde vestimenta sua e de seus seguidores na Ordem religiosa que criou a Ordem dos Frades Menores, como vimos no artigo que antecede este.

*Onde houver ódio, que eu leve o amor.

A Oração agora elenca uma série de sentimentos humanos já pré-existentes no seio da humanidade, e Francisco pede a Deus que lhe dê forças para se portar de forma “reativa” diante desses sentimentos, comportamentos e sensações humanas que conflitam com a vontade de Deus.

É de se observar, que a Oração traz seguidas expressões “Onde houver” o que, a meu sentir, demonstra estar Francisco consciente da existência destruidora do que elenca e de sua universalidade.

Vale dizer, que Francisco reconhece a existência maléfica de tudo que relaciona “onde houver” e como bem refere nesta estrofe, reconhece a pré-existência do Ódio nos corações humanos e em rogativa suplica a Deus, que lhe permita ser seu instrumento para combatê-lo “onde houver ódio”, ou seja, em qualquer coração humano onde o Ódio esteja instalado, seja este coração de quem quer que seja e não seleciona ninguém, antes, iguala.

Demonstra a revelação de sua escolha pelo Amor a enfrentar todos os frutos do mal. Em paralelo, temos a Carta de São Paulo aos Coríntios 13, 3-7 que diz: “Ainda que distribuísse todos os meus bens em sustento dos pobres, e ainda que entregasse o meu corpo para ser queimado, se não tiver Amor, de nada valeria! O Amor é paciente, o Amor é bondoso. Não tem inveja. O Amor não é orgulhoso. Não é arrogante, Nem escandaloso. Não busca os seus próprios interesses, não se irrita, não guarda rancor. Não se alegra com a injustiça, mas se rejubila com a verdade. Tudo desculpa, tudo crê, tudo espera, tudo suporta”.

*Onde houver ofensa, que eu leve o perdão.

Nesta estrofe Francisco se oferece a Deus para servir novamente de instrumento; para ser porta voz do perdão e jamais por ele mesmo oferecer o perdão aos que promovem a ofensa. Quer ser apenas o mensageiro do perdão Divino, justamente ele que também sofreu pessoalmente tal como JESUS, graves ofensas e castigos que partiram, dentre outros, do seu próprio pai além das ofensas da sociedade de Assis que o julgava extravagante, estranho, “doido” por estar “dando aos pobres para assim poder se habilitar a receber de Deus”.

O Contraponto da ofensa é o perdão e Francisco busca ser o instrumento desse perdão pedindo a Deus que assim o use, para que seja o condutor do perdão de Deus aos que ofendem.

*Onde houver discórdia, que eu leve a união.

Percebeu Francisco que a discórdia presente no coração humano era muito mais destruidora do que aquela discórdia respeitosa de divergentes pontos de vista, de divergentes gostos, de divergentes preferências enfim, Francisco trata aqui da discórdia que fica roendo e corroendo o coração humano destruindo as relações sociais e familiares.

Essa discórdia guardada com ressentimento especialmente no âmbito familiar promove a desunião, a desagregação da família e da sociedade enfim, agride os ensinamentos de Deus e Francisco pede que também neste caso, ele seja usado como instrumento para afagar os corações assombrados pela discórdia deletéria, e que a este coração cheio de rancor ele possa levar a união, o amor.

*Onde houver dúvida, que eu leve a fé.

A mensagem desta estrofe, sempre a meu exclusivo sentir, extrapola a fé religiosa para alcançar a no seu sentido mais amplo envolvendo a vontade, a crença, a convicção do cristão, seus irmãos, de que se tiverem fé naquilo que acreditam, se se comportarem e agirem acreditando naquilo que de fato buscam e têm fé de que vão conseguir, eles efetivamente alcançarão seus fins. É preciso obrar no exercício da sua fé.

Francisco busca alcançar a fé que existe escondida no coração de cada pessoa, e que muitas vezes não é revelada porque quem as guarda é o próprio ser humano, que não a revela porque a guarda escondida dentro de uma caixa que é seu próprio coração, cujo cadeado que a lacra se chama dúvida e a chave para se abrir esta caixa é o livre arbítrio que Deus nos deu, e quando aberta por nós mesmos, o que está dentro se revela e é chamada Revelação ou a Palavra.

Francisco exercita a sua Fé e responde à voz que vem de seu interior dizendo: “onde houver dúvidas que eu leve a Fé”. São Paulo corrobora quando diz: “Uma Fé sem obra, é uma Fé morta”.

No contraponto, a dúvida é um sentimento que restringe, acabrunha, fecha a caixa da fé em nossos corações e transmite insegurança nas relações, tornando aquele que está em dúvida refém dos mais astutos e a dúvida, sem dúvida, aniquila o progresso espiritual, daí o Papa Francisco no encontro mundial da juventude ocorrido no Rio de Janeiro ter usado uma expressão muito popular entre os jovens que alí estavam aos milhares vindos do mundo todo, tendo sido ovacionado quando disse: “BOTA FÉ”.

Nossas dúvidas são traidoras, e nos fazem perder os bens que poderíamos conquistar se não tivéssemos medo de tentar”. Shakespeare.

 

                  

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