Materiais da natureza são transformados em acessórios e utensílios em oficinas educativas

Materiais da natureza são transformados em acessórios e utensílios em oficinas educativas

Projeto trabalha com a produção de biojoias e cerâmicas que auxiliam na geração de renda de quilombolas

Com o objetivo de promover a conscientização ambiental e auxiliar na geração de renda de comunidades quilombolas no município de Oriximiná, no Oeste do Pará, a Mineração Rio do Norte (MRN) retoma as atividades do Projeto de Educação Ambiental e Patrimonial (PEAP) após suspensão, devido à pandemia da Covid-19. O projeto promove também a preservação do patrimônio material e imaterial das comunidades tradicionais da região, valorizando a cultura local.

“O PEAP tem dois eixos de atuação, biojoias e cerâmica. Nestes dois eixos, estamos desenvolvendo oficinas em oito comunidades quilombolas do Alto Trombetas, todas pertencentes a Oriximiná. E, assim, trabalhando com educação ambiental, empreendedorismo e produção de adornos corporais e vasilhas pelos comunitários, de forma sustentável", assinala Jéssica Naime, gerente geral de Relações Comunitárias da MRN.

Segundo Murillo Pimenta, consultor do PEAP pela empresa Biota, a retomada do projeto foi feita a partir de um cronograma com diversas ações iniciadas no mês de julho, que seguem até 2024. “Temos um calendário de atividades com oficinas durante todo o mês. Nos encontros, além de oferecermos orientações e especialistas que ministram, com aulas práticas, a aplicação de materiais, também promovemos palestras e cursos sobre design de joias e utensílios, precificação de produtos, desenvolvimento de criatividade, técnicas de vendas, entre outros”, destaca.

Biojoias

De acordo com Lidia Abrahim, especialista em Design de Joias e Artesanato, que é instrutora das oficinas do PEAP, os acessórios são referenciados pela moda sustentável, conectada com aspectos e símbolos da natureza. “São produzidos com materiais naturais, como sementes, fibras, cocos, ouriços de castanheiras; a reutilização de resíduos florestais, como folhas, frutos, cascas do Cumaru e do Tucumã, entre outros materiais. Muitas vezes, nós encontramos esses materiais no quintal, no entorno das comunidades, na beira do rio ou adentrando um pouco nas matas”, conta.

“Estamos no processo de construção de uma marca coletiva, que é formada por artesãos, imprimindo a identidade étnica nas biojoias. Para isso, iniciamos uma pesquisa visando buscar as referências da ancestralidade local, oriundas da miscigenação de etnias indígenas e africanas. Essa ancestralidade ficou registrada em materiais cerâmicos, arqueológicos e artesanais encontrados nas comunidades, como vasos, cachimbos e utensílios, com desenhos belíssimos e de grande riqueza cultural”, ressalta Lidia.

Laurinele Figueiredo, da comunidade Último Quilombo, participou em 2020 das oficinas de biojoias e retornou às atividades do PEAP na nova fase. “Eu adoro participar e as aulas são muito boas. Aprendemos a fazer colares, brincos, pulseiras anéis”, diz. No verão, ela aproveita o início da estação para fazer suas vendas e complementar a renda. “Aqui tem praias e muitas visitas de pessoas de várias regiões, que compram as biojoais. Também fazemos solturas dos quelônios, que reúne muitas pessoas e voluntários. São bons períodos para comercializar os produtos”, complementa.

Cerâmicas

O instrutor e artesão Hildemar Almeida é responsável pelas oficinas no eixo de cerâmica. A produção dos utensílios envolve técnicas ancestrais, como acordelado, placa, torno e mista, executadas com argila, engobe (tinta criada com a própria argila), ferramentas para desenhar, sementes de inajá para melhor acabamento e brilho natural das peças, entre outros.

“Trabalhamos com os fragmentos de cerâmica que são encontrados no entorno das residências. Esses fragmentos mostram desenhos e adornos bem elaborados de uma ocupação no período de 300 a 1.700 d.C. A tribo indígena, conhecida como Konduri, deixou um legado em cerâmica muito rico na região e, hoje, várias pesquisas são feitas, inclusive disponíveis no Museu Emílio Goeldi, na capital Belém. Então, temos essas referências, que são impressas nas peças da comunidade por meio da decoração, como resgate dessa cultura por meio do PEAP”, evidencia o especialista. “O projeto busca a valorização das raízes quilombolas que, por meio da produção de peças, faz o registro da sua cultura e de seu modo de vida. Assim, a comunidade vai criando sua marca, se fortalecendo junto ao mercado e deixando um legado para ao seu povo”, completa.

Euziane Fernandes, da comunidade Jamari, participa das oficinas desde 2019. Ela aprendeu a produzir algumas peças com sua mãe e se aprimorou nas aulas com cerâmica. “Aprendi com ela e, quando veio o projeto, eu aprendi a fazer as peças com mais detalhes e com orientações. Gosto muito de participar das oficinas e as outras meninas também, principalmente, pelos desenhos e detalhes que são ensinados”, conta. Ela acrescenta que ainda usa as peças em casa, mas seu objetivo é vendê-las. “Já faço vasilhas e, às vezes, consigo vender na própria comunidade. Mas eu tenho expectativas de levar minha arte para eventos, oficinas, feiras, fazendo uma renda extra”, afirma.

O PEAP integra o Programa de Educação Socioambiental (PES), uma condicionante estabelecida pelo Instituto Brasileiro do Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis (IBAMA) no processo de licenciamento ambiental da MRN. Tem como propósito fortalecer a identidade cultural, a partir do resgate e da valorização do patrimônio artístico e cultural, com o uso responsável dos recursos naturais.

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FONTE: Comunicação/MRN

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