“Cabeça do Padre” resistirá até quando?

“Cabeça do Padre” resistirá até quando?

João Canto. 

Quem não tomou banho no porto de cima de Óbidos e não brincou na “Cabeça do Padre”?

Óbidos é uma das cidades mais antigas do Pará, este ano completou 319 anos de fundação. Foi povoada por índios, os Pauxis, negros e europeus. Essa mistura fez com que o povo obidense desenvolvesse uma base cultural e patrimonial muito diversificada, como também a sua economia, que foi bastante significativa nos meados dos séculos XIX e XX, principalmente pela exportação de produtos como a castanha e a juta.

Voltando um pouco mais no tempo, houve também o ciclo do cacau “que foi um dos mais importantes ciclos econômico da Amazônia e teve seu plantio de várzea iniciado em 1667, pelo padre João Felipe Betendorff, fundador da missão dos Tapajós de Nossa Senhora da Conceição e se prolongou pelos séculos seguintes”, comenta Hélcio Amaral.

Em consequência da grande produção de cacau, mais tarde, foi instalado uma alfândega e três consulados, Português, Frances e Italiano, possibilitando a exportação do produto diretamente ao exterior, sem a necessidade de receber autorização na cidade de Belém.

Segundo Hélcio, durante esse período, a cidade recebeu uma infraestrutura capaz de elevar o IDH com a instalação do serviço de energia elétrica obtida por funcionamento de Caldeira a vapor, água encanada possibilitando um melhor conforto, pois, Óbidos recebia projeto arquitetônico de primeiro mundo com banheiros internos ao nível das mais requintadas residências da Europa e para isto construíram uma casa de bomba acionada por caldeira a vapor, localizada no porto de cima para transportar o precioso líquido ao reservatório localizado na parte mais alta da cidade,  ao lado das residências dos oficiais, (nos fundos da capela do BOM JESUS).

Antigo prédio de Captação de Água, Cabeça do Padre

Verificando que a água do rio amazonas continha muito material em suspensão e que sua sedimentação prejudicaria a qualidade para o consumo, resolveram construir próximo ao rio um fosso com dois metros de diâmetro, com profundidade superior ao nível deste, a fim de receber água filtrada através de vasos comunicantes.

Em torno desse fosso ergueu, em alvenaria de tijolos, uma proteção em forma cilíndrica, com uma abóboda, ao qual, “as gerações” conhecem pela carinhosa denominação de “CABEÇA DO PADRE.”

“Óbidos foi a primeira cidade da Amazônia, entre Belém e Manaus, que teve luz elétrica e água encanada”, comenta Hélcio Amaral.

Hoje, a “Cabeça do Padre” virou um monumento para os obidenses, símbolo que marcou várias gerações. Localizada na praia do Porto de Cima, a “Cabeça Padre”, depois que foi desativada, foi esquecida pelos administradores do município há várias décadas e está se deteriorando com o tempo, principalmente agora, com essas grandes enchentes que vem acontecendo nos últimos anos na Amazônia.

Consideramos esse monumento um patrimônio cultural dos obidenses e não pode ser deixado ao relento. Toda a estrutura que existia em torno da “Cabeça do Padre”, foi se perdendo com o tempo e hoje só existe a abóboda, que resiste às grandes cheias e se não for feita nenhuma ação para preservação e revitalização da “Cabeça do Padre”, será mais uma herança de nossos antepassados que será perdida, principalmente pela falta de sensibilidade cultural e patrimonial de nossos administradores.

As fotografias que estamos postando nesta matéria, tiradas em várias épocas do ano, mostram toda estrutura que existia e como está atualmente. Dá pra notar que o reboco externo não existe mais e os tijolos já estão aparentes e com grande rachaduras.

Ainda há tempo, pelo menos para revitalização da abóboda, “Cabeça do Padre”, se ainda resistir as próximas enchentes; se não, estará com os dias contados!

Matéria originalmente publicada em 2012.

Por João Canto

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