HOJE TEM ESPETÁCULO! TEM “SISINHÔ”!

HOJE TEM ESPETÁCULO! TEM “SISINHÔ”!

Dino Priante. 

Posso me considerar um felizardo, por ter nascido em uma cidade do interior, principalmente na nossa querida Óbidos, onde tive uma infância com bastante liberdade.

Cidade hospitaleira, localizada às margens do grande Rio Amazonas. Não havia violências, as famílias se respeitavam e se amavam, de vez em quando divulgavam um “Pasquim”, falando mal dos outros, mas isso era para quebrar a monotonia.

Podíamos saborear um pescado fresquinho, às vezes capturado na hora, como é o caso do nosso jaraqui.

Como toda cidade do interior, qualquer tipo de atração que chegava, para o divertimento dos carentes moradores, era sucesso absoluto, visto que não havia televisão e o rádio só pegava em ondas tropicais, com audiência absoluta da rádio Globo, do Rio de Janeiro, pela manhã; Rio Mar, de Manaus, na parte vespertina, com programas de mensagens e dedicatórias musicais, porque à noite, além da PRC5 de Belém, ouvíamos a Voz da América diretamente de Washington, na voz de Pedro Catar. As atrações, quando chegavam à cidade, a notícia se espalhava rapidamente.

O Circo era um desses espetáculos, a população começava a fazer suas economias, para comparecerem à noite e se divertirem com os artistas da cobertura de lona.

Há umas seis décadas, em Óbidos não havia automóveis, as ruas não eram pavimentadas, então a anunciação e a propaganda do circo eram feitas por um funcionário circense, talvez o palhaço, que reunia a molecada ao cair da tarde, metia um carimbo no braço desses garotos, que quando eles chegavam às suas casas e iam tomar banho, envolviam um plástico no braço ou banhavam-se com o braço para cima, para não molhar ou retirar o registro de sua colaboração na divulgação do circo, caso contrário sua presença teria sido debalde, e a noite não teria o acesso gratuito ao espetáculo.

Os circos se instalavam na Praça de Sant ‘Ana, por trás do “Clíper” da Santa, próximo a uma frondosa mangueira, que não sei se ainda existe hoje. Desse local, o palhaço em uma perna de pau de aproximadamente dois metros, com cerca de 20 a 30 garotos, saíam pelas ladeiras de Óbidos, gritando:

─ Hoje tem espetáculo?

   E a garotada respondia:

─ Tem “sisinhô”!

─ Às 8 horas da noite?

─ É “sisinhô”!

─ Tem malabarismo?

─ Tem “sisinhô”!

─ Tem trapezistas voadores?

─ Tem “sisinhô”!

─ O tico-taco...

─ O tatu está no buraco.

─ E o tatu está no buraco...

─ O tico-taco.

Paravam em uma esquina movimentada, e o palhaço gritava:

E “arremexe” o xenhenhém, a molecada respondia, com gestos nos quadris: “xenhenhém – xenhenhém” (nessa época nem se ouvia falar no FHC!), outra exclamação era: Seu Maneeeeel!  essa era com gestos eróticos.

E pela noite era o grande espetáculo. Lembro-me de um dos mais famosos circos que havia no Brasil que era o Circo Garcia, com seus Elefantes da Birmânia, Tigres de Bengala, palhaço Pixilinga, globo da morte, trapezistas voadores, malabaristas, equilibristas, e sempre como ultimo número, era encenada uma comédia ou um drama, lembro de algumas peças como: O ébrio, Vida de Cristo e outras.

Agora, imaginem quando os domadores saíam com os elefantes para dar banho nesses animais, geralmente naquela rampa ao lado da antiga casa comercial do Sr. Cornélio, com a presença da garotada acompanhando, todo mundo admirado, acho que até hoje seria sucesso!

Outro circo que lembro, foi o circo de Moscou, tinha como palhaço o Pimentinha, mas era bem inferior ao Garcia. Esses circos passavam em torno de trinta dias no máximo na cidade.

O meu amigo Carlos Antonio Silva, que já se foi prematuramente,  foi nosso vizinho por algumas décadas, nos nossos quintais não haviam cercas, e por ocasião da estadia desses circos, nos inspirava e brincávamos de apresentar espetáculos, debaixo de uma sapotilheira que havia em nosso quintal.

Pegávamos alguns lençóis, fazíamos um cercado, debaixo de um galho, onde daria para amarrar as cordas, instalávamos o trapézio, eu e meu irmão Ítalo éramos os trapezistas, o Carlos Antonio era o equilibrista, equilibrava cadeira, mesa no queixo, na testa, vassoura, garrafas e etc.,  sua irmã Anete era o palhaço e a outra irmã Fátima, contorcionista. Convidávamos os colegas vizinhos, e por simbólicos centavos, dávamos o espetáculo. 

O mundo do circo vem caindo bastante, logo que cheguei aqui em Belém, com o jeitão interiorano, andei indo a muitos bons circos, como o Thiany e outros, há muitos anos que não vou à um circo. A sociedade mais intelectualizada, principalmente aqui no Brasil, acha brega assistir a um espetáculo circense, acho uma besteira, têm cada circo internacional, como os chineses, russos, italianos que são verdadeiros “shows”.

 Faço votos, que a arte circense perdure por toda a existência.

www.obidos.net.br

Comentários  

0 #1 Jorge Luis Rodrigues 27-09-2021 09:23
Realmente,era um espetáculo em nossa Cidade.tinha perna de pau,na rua,lá estava eu.kkkkkkk.velhos e bons tempos.
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