A LENDA E A HISTÓRIA

A LENDA E A HISTÓRIA

HÉLCIO AMARAL. 

A Amazônia, que pela fertilidade de seus visitantes tornou-se um paraíso lendário, acabou por esconder algumas verdades e por isto merecem explicações  a fim de que  possa ser desmistificado e perpetuado o fato como história.

Em l835, a Amazônia foi marcada pela explosão de um movimento revolucionário nativista que tinha como objetivo principal tirar da administração e da convivência popular  os lusitanos  que dominavam todas as atividades econômicas e ocupavam todas as vagas administrativas do erário público.na região.

A idéia se disseminou de tal forma que foi além de um projeto político, transformando-se em ódio e  a grande maioria dos nativos transformaram-se em lusófobos e passaram não só a contestar a presença dos portugueses na administração pública ou no comando das atividades agrícolas e comerciais, passaram a matar indiscriminadamente sem poupar as esposas e descendentes  independentes de condições econômicas, sociais ou políticas. Os CABANOS, como se denominaram, executavam sumariamente portugueses e descendentes que chamavam de galegos.

A Província do Grão Pará, a mais portuguesa de todas as províncias brasileiras, por ter o privilégio de manter uma administração ligada diretamente ao Reino de Portugal, sem obedecer ao governo Colonial do Brasil, fato que levou o Pará a retardar o reconhecimento da independência do Brasil, aceitando somente em l5 de agosto de l823, data considerada histórica para os paraenses.

O ataque que era somente contra os portugueses e descendentes, posteriormente estendeu-se às demais famílias que tinham algum recurso financeiro e além de tomarem dinheiro e jóias, também seqüestravam familiares como forma de pressão e demonstração de poder  fazendo prevalecer o temor. O objetivo principal desse brutal atitude era obter recursos para manter o movimento que precisava alimentar e manter um contingente de milhares de homens que sem renda careciam do mais elementar recurso.

Os Cabanos eram trabalhadores braçais que moravam em cabanas nas margens do Rio Amazonas, ocupados no cultivo do cacau ou nas atividades pecuárias. Eram cafuzos, caboclos e escravos, todos submissos e distantes das mordomias dos coronéis.

A violência e a anarquia fizeram crescer o temor da comunidade que indefesa não tinha a quem solicitar proteção ou punição aos anárquicos e até mesmo o clero que inicialmente havia apoiado o movimento ficou temeroso diante a crescente onda de violência que a cada dia ganhava mais adeptos.

As famílias mais abastadas possuíam: jóias, moedas cunhadas em ouro e prata e não tendo onde guardá-las resolveram enterrá-las pensando em resgatá-las tanto que vida voltasse a normalidade. Esta foi uma ação quase generalizada e o movimento que se prolongou por mais de dez anos deixou marcas profundas na vida da comunidade que mesmo encerrado o movimento preso os líderes, o temor de novos ataques fez com que os tesouros ficassem enterrados em tachos, potes, panelas ou recipiente de cobres por serem mais duradouros.

O tesouro enterrado era feito em sigilo pelo proprietário longe da presença de familiares e principalmente de pessoas que geneticamente não pertenciam à família. Quando ocorria do proprietário falecer o tesouro permanecia enterrado e perdido dos demais familiares que sabiam do fato mais desconheciam o local.

Por algum motivo, anos após, alguns destes tesouros foram encontrados por pessoas de outras gerações e outras famílias, surgindo assim o mito do tesouro enterrado, fato que fez muitas pessoas escavarem nas áreas das antigas fazendas e residências urbanas desde o século XIX e boa parte do século XX. Todo cidadão que conseguia prosperar de forma rápida com ações comerciais no ciclo do cacau, borracha ou juta, a comunidade levantava suspeita do felizardo ter desenterrado um tesouro.

É verdade que existiam e ainda deve existir algum tesouro enterrado na época da cabanagem, mais na grande parte é mito. Para separarmos a história da lenda é que registramos fatos concretos ocorridos nas cidades de Santarém e Óbidos, comunidade que permaneci por longo período.

Na década de trinta do século XX, aportou em Santarém um Espanhol chamado Fernandes e foi residir da Trav. Francisco Corrêa, nº 46 (hoje demolida) arquitetura de construção secular como a maioria da época tinha o piso feito de assoalho. Forma que mantinham para fugir da umidade,  e como as tábuas já estavam apodrecidas resolveu substituí-las e qual a surpresa? De baixo do assoalho de 60 cm de altura estava uma caixa construída de madeira itaúba de dimensão de 50 x 30 x 30 cm, que ao abrir constatou estar literalmente repletas de jóias de ouro e moedas de libras ouro. No dia seguinte o Sr. Fernandez apanhou o navio para Belém onde negociou o tesouro encontrado e comprou equipamento para montar uma panificadora que funcionou por muitos anos na Esquina da Trav. 15 de novembro com a Rua Siqueira Campos.

Na década de 50, numa tarde de inverno amazônico, quando o Matadouro da cidade de Santarém ainda funcionava num local onde hoje está a Praça Tiradentes, um grupo de moleques que participavam de uma gostosa “pelada”  sob torrencial chuva dentro de forte enxurrada que descia da Trav. Barjona de Miranda exigindo ainda mais esforço para dominar e chutar a bola e em determinado momento um garoto chutou e veio preso ao pé um cordão de ouro que media mais de um metro e ao dar alarme, os demais parceiros meteram a mão na enxurrada outras peças de jóias de ouro e na algazarra despertaram a atenção dos trabalhadores do matadouro que dispensaram a garotada e apossaram-se da maior parte do tesouro dividindo de forma anárquica, história esta conhecida pela maioria da população do Bairro da Aldeia.

Outro fato se deu na cidade de Óbidos, também na década de 50, quando os tubos da adutora que transportava água do antigo sistema de abastecimento instalado pelo exercito no início do século XX, foram removidos da Trav. Bom Jesus, no trecho entre a Rua Raimundo Chaves e Justo Chermont, em frente ao portão da sede da Congregação Mariana, ao lado do Salão Paroquial. Um operário que executava a escavação, ao remover uma porção de solo viu deslocar uma dúzia de Moedas de Ouro as quais ao fim do dia foram vendidas a um comerciante nas proximidades. Embora um tesouro de pequeno valor, contudo revela a veracidade de uma história.

Diante dos fatos relatados, fazemos o registro de uma história, entretanto as estórias dos tesouros enterrados continuam aguçando a imaginação de muitos sonhadores.

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