Uma pesquisa realizada no Oeste do Pará reforça a importância dos sistemas agroflorestais (SAFs) como estratégia de enfrentamento às mudanças climáticas e de fortalecimento da agricultura familiar. Conhecidos por integrar espécies florestais e agrícolas, e em alguns casos até animais, os SAFs se consolidam como alternativas sustentáveis que conciliam produção, renda e conservação ambiental.
A investigação foi conduzida pela professora Daniela Pauletto, do Instituto de Biodiversidade e Florestas (Ibef) da Universidade Federal do Oeste do Pará (Ufopa). Os resultados compõem a tese “Sistemas Agroflorestais na Amazônia Oriental: Análise da adoção, composição e características socioambientais”, defendida em abril deste ano no doutorado em Biodiversidade e Biotecnologia da Rede Bionorte/UFPA.
O estudo abrangeu sete municípios da região — Santarém, Belterra, Mojuí dos Campos, Rurópolis, Novo Progresso, Alenquer e Monte Alegre — com 68 propriedades visitadas e 75 sistemas analisados. “A pesquisa investigou a composição, a riqueza, a dinâmica e os fatores socioambientais que influenciam a implantação dos SAFs”, explica Pauletto.
Segundo a pesquisadora, a diversidade encontrada é expressiva, com predomínio de frutíferas. “No nosso contexto amazônico, os SAFs não são pensados para madeira, mas para fruta. Agricultores familiares, extrativistas e quilombolas têm grande afinidade com esse tipo de produção”, destaca.
Entre as espécies de maior interesse está o cumaru (Dipteryx odorata), cuja semente tem mercado em expansão. A árvore, além de gerar renda rápida — inicia a produção em cerca de dois anos e meio —, permite o consórcio com espécies mais exigentes, como cacau e cupuaçu. “O cumaru tem se tornado uma mola propulsora para os SAFs, incentivando agricultores a diversificar ainda mais suas áreas”, afirma.
Outro ponto ressaltado pela pesquisa é o papel dos quintais agroflorestais, presentes em praticamente todas as residências rurais. Eles funcionam como espaço de experimentação, onde agricultores testam novas espécies antes de expandir para áreas maiores. Além da função produtiva, os quintais cumprem papéis sociais e culturais, servindo de locais de descanso, encontros religiosos e práticas cotidianas.
A pesquisadora destaca ainda que a implantação dos SAFs não substitui os cultivos tradicionais, como mandioca e feijão, essenciais à segurança alimentar. “O agricultor amplia sua atuação com os sistemas, mas mantém seus roçados. É um complemento que garante renda sem abrir mão da base alimentar”, explica.
Os resultados da pesquisa ganham relevância no cenário atual de debates climáticos. Parte dessas discussões será ampliada no Pré-COP 30 da Ufopa, que acontecerá nos dias 28 e 29 de agosto, em Santarém (PA). O evento reunirá especialistas para tratar de desafios socioambientais e estratégias de enfrentamento às mudanças climáticas.
Mais informações estão disponíveis no site oficial do encontro: Pré-COP 30 Ufopa
www.obidos.net.br - Com Informações da UFOPA